segunda-feira, 23 de maio de 2011

Nele cabe o que não cabe na despensa...

Tem gente que se encanta com uma calça sarouel da Zoomp. Ou com o novo Jetta. Com Chandons, Chardonaires e afins. Talvez até com as joias expostas nas vitrines da H. Stern ou Vivara. E do encantamento vão para as insustentáveis discussões sobre tudo isso e mais um pouco. Falações sobre charutos, whiskys, taxas básicas de juros, taxa selic e blá blá blá. Pois é. Essas pessoas esquecem de, simplesmente, olhar e se encantar com o que tá do lado. Ou até mesmo na frente, embaixo do nariz empinado.
Viver o abraço, as mãos dadas, as lágrimas, as gargalhadas, os vários tipos de espirros e cócegas nos pés são coisas que realmente me encantam. São coisas que eu carrego comigo e que eu distribuo, homeopaticamente, no cotidiano. O que me encanta está na sensação que tenho quando lembro, e não quando lembro que preciso ter para sentir.
A calça um dia, talvez, vai me apertar. Se não apertar, vai rasgar. O novo Jetta, daqui a seis meses, vai ser um velho carango, substituído por qualquer outro carro com nome tão esquisito quanto. As joias... é, as joias não vão estragar. Mas vão me deixar sem um puto no bolso por um bom tempo. E com certeza ficarão, a maior parte do tempo, guardadas no fundo da gaveta, criando poeira e cheirando a naftalina.
Já a lembrança do abraço daquela que tanto discorda de mim, mas que de uma forma esquisita me completa, vai me aquecer o coração nos dias em que o Rio estiver marcando 14° C de madrugada. E as mãos dadas com aquele por quem já chorei, mas hoje me faz rir e me faz cafuné pra dormir também de forma maluca me completa. E as lágrimas daquela que, em tão pouco tempo, tive a oportunidade de testemunhar a bela metamorfose de lagarta para borboleta, me completam lindamente. E a gargalhada, às vezes contida, às vezes estrondosa daquele que sempre vem de longe com suas histórias e, quando comigo, me compra picolés de limão, só porque sabe que é o meu preferido, também salva meu coração.
E o engraçado é que tudo isso veio à tona hoje depois de assistir o clipe de uma das músicas mais belas que já escutei. E percebi que era assim tão bela quando me arrepiei, meus olhos encheram d´água e todas as pessoas que amo vieram à minha mente quando assisti. São seis minutos de uma única estrofe sendo repetida inúmeras e incansáveis vezes, mas que ao invés de nos irritar pela repetição, vicia. Gruda no ouvido feito chiclete. Cola no coração. Como oração.
Eu poderia escrever várias coisas aqui nesse momento. Mas para que? Eu acho mais interessante este texto servir de start para se pensar o que é que cabe dentro do peito. Serve como uma última oração, pra salvar seu coração, afinal, coração não é tão simples quanto pensa. Nele cabe o que não cabe na despensa. Cabe o amor. Cabe três vidas inteiras... cabe uma penteadeira. Cabe todo o mundo.


http://www.youtube.com/watch?v=QW0i1U4u0KE