segunda-feira, 19 de maio de 2008

Chega de saudade

Ah, saudade...

Quem nunca sentiu saudade? De um doce, uma época, de uma ou várias pessoas...! O tempo passa, as coisas mudam. Coisas, tempos, situações... pessoas. Os erros já foram cometidos, os acertos, feitos para redimí-los. Mas a saudade vem como o primeiro feixe de luz do sol da manhã entrando pela janela do quarto: lentamente e confortante. Para daí arder e queimar com o calor do meio-dia.
A saudade é um sentimento bom? Depende do que se sente saudade. Quando são situações concluídas no passado, a saudade vem para remeter o quanto fomos felizes, ou o quanto pudemos aprender. É aquela lembrança boa vinda juntamente com uma música, ou o sabor de uma comida especial. Até mesmo a fragância de um perfume a tempos não sentido nos transporta para aquele ano, naquele dia daquele mês. Nossos olhos chegam a brilhar de nostalgia.
Mas a saudade também pode ser um sentimento ruim. Aquela que nos faz lamentar algo que passou e que, talvez, nunca mais volte. A fotografia de um determinado momento, a sensação de que alguém especial não mais retornará pelo fato de já ter morrido... ou até mesmo de que alguém especial não mais retornará...para si. A pior saudade é aquela sentida quando ainda há proximidade dos corpos físicos, mas não mais das sensações.
Estar a cinco metros de distância de alguém e não poder mais tocá-la, abraçá-la, sentir seu característico cheiro é algo dilacerante. Estar perto e não mais pegar em suas mãos, dar um abraço, sussurrar e ouvir coisas ao pé do ouvido. Pensar só depois quais palavras poderiam ter sido ditas e quais atitudes poderiam ter sido tomadas. A pior saudade é a saudade do inacabado. É sentir falta de situações que aconteceram e que poderiam vir a acontecer. A pior saudade é a das oportunidades perdidas.
O tempo há de passar. "Todos os dias é um vai e vem" já dizia Milton Nascimento. Tem gente que veio para ficar, tem gente que vai para nunca mais. Tem gente que vem e quer voltar, tem gente que vai e quer ficar, tem gente que veio só olhar, tem gente a sorrir e a chorar. Então, faça por onde não sentir mais a saudade dolorosa. Aja, atue, documente, fale, viva, sinta...! Pois a hora do encontro é também despedida. E depois do "adeus", pode ser tarde demais...!

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Doce Abril...

Há alguns anos atrás assisti a um filme a princípio piegas. A história girava em torno de duas pessoas que se conheciam "de repente"... ele, um executivo bem sucedido desprovido de verdadeiras paixões... ela, o oposto, uma "carpe diem" que acredita piamente nos amores curtos, porém, arrebatadores. O roteiro se repete a fim de incitar nas pessoas o sentimento de "o-amor-pode-estar-ao-seu-lado"... ou "não-deixe-as-oportunidades-passarem".
Sobem os créditos, ouvem-se os suspiros da platéia, as luzes se acendem e... voltemos todos para casa. Mas, e aí?
O cinema explicita determinadas situações que nos fazem acreditar que são reais. O tempo passa, vivemos inúmeras experiências, conhecemos diversar pessoas, visitamos lugares inusitados... e ali naquele detalhe, aquele dia, notamos uma leve semelhança com o que passa na tela.
Tive a prova disso outro dia, conversando com uma amiga que há tempos não via. Ouvi uma história parecida com a do filme. Saída recentemente de um relacionamento extremamente difícil, ela não esperava em hipótese alguma vivenciar prematuramente um sentimento tão intenso. Mas aconteceu. E aconteceu com a última pessoa da face da Terra que poderia dar certo, segundo ela.
A coisa começou de brincadeira. Nenhum dos dois tinha qualquer intenção. Inclusive jurara a si mesma que não passaria de um dia. Mas veio o dia seguinte... e o seguinte... e o seguinte. Mãos dadas, beijos carinhosos, sussurros ao pé do ouvido. Conselhos de cuidado, olhares de preocupação... apelidos carinhosos, supostas "juras". Até mesmo confissões subliminares e promessas subentendidas de relacionamento único.
Ao contar, com todos os detalhes, cada particularidade da vida a dois, os olhos de minha amiga marejavam-se de forma saudosa. E eu ouvia atentamente.
Mas, em um determinado momento, o medo da intimidade falou mais alto. Entre a cruz e a caldeirinha, de repente, o rapaz chamou-a a um canto e explicou sua situação. E que situação! Aquela que todas as mulheres temem e rezam para nunca lhes acontecer. Sentou-a em um banco e contou-lhe sobre seu passado. Em clima de confessionário, fez ela papel de vigário. Ao dizer tudo talvez ele tenha pensado que receberia em troca o silêncio ou um "tudo bem, compreendo".
Foi aí então que minha amiga encheu o peito e disse à ele, orgulhosa, que "o ser mais irracional do mundo é o ser humano: faz a mesma coisa todos os dias objetivando resultados diferentes".
Palavras bonitas... boas intenções. Ele avisou-lhe que, a qualquer momento, as coisas poderiam mudar de rumo. E que tinha a certeza de sua culpa afinal, inerente à sua vontade, ele criava uma barreira em volta de si próprio. Sempre.
Minha amiga não desistiu. Pensou que seria o diferencial e, após dois longos dias de choro, renovou-se e continuou seguindo em frente. Mas era tarde demais. Aquela conversa fora o início do fim. Tudo foi murchando... as palavras tornaram-se escassas, os sussurros idem. Mãos dadas tornaram-se raras... promessas foram desfeitas. Tudo durou apenas um mês.
Um mês... quatro semanas... 30 dias...! É o suficiente para se tornar inesquecível? É isso o que propõe boa parte do filme que assisti. Mas por que acabar com algo que pode dar certo? Por que viver a vida tão loucamente a ponto de não vivê-la o suficiente? Por que tanto medo, angústia, bloqueio... por que o medo de viver?
Ela, lamentavelmente, optou pela decisão, a curto prazo, mais dolorosa. "Abortarei essa missão, amiga", disse-me cheia de dor. "Sei que poderia ter feito a diferença... sei que poderia tê-lo feito feliz... mas não depende só de mim". É pela indecisão que se perdem as oportunidades, já dizia Publílio Siro.
Tudo está ficando mais difícil e principalmente as relações humanas. Não nos cumprimentamos mais, nem conhecemos quem são nossos vizinhos. Nos resumimos à relações virtuais não somente no sentido cibernético mas no sentido real do virtual. Fingimos ser algo para fingirmos a vivência de algo. No final das contas a única coisa real é o sentimento de vazio que nos sobra. O que somos? Aliás... o que estamos nos tornando?
Banalizaram-se os relacionamentos... tudo é "faz-de-conta", e isso muitas vezes machuca. Vide a minha amiga!
Como diz o Jabor... paremos de venerar peitos e bundas. E ainda acrescento: paremos de venerar a "pegação", o "rala-e-rola". Para quê? Somos humanos providos de sentimentos, seres completamente racionais capazes de discernir o certo do errado. Viver o agora? É interessante e atrativo... e por que não vivê-lo com qualidade, e não com quantidade? Torna-se mais atrativo ainda.
Quantas pessoas deixamos passar em nossas vidas pelo medo do desconhecido? O novo é bom, traz experiências, nos enriquece cultural e humanamente. Por que não se envolver com o novo? É assim que sabemos se valerá ou não a pena.
Não devemos viver por conta de um passado. Ele serve apenas para não repetirmos os mesmos erros. E também não devemos viver a mercê de um futuro, afinal, ele ainda nem chegou e deve ser construído no agora, no presente. Não nos igualemos jamais. Todos somos diferentes, em vários aspectos. Deveríamos abolir da língua portuguesa a palavra "generalização". Para que generalizar se há sempre um detalhe capaz de diferenciar?
No fim do filme, os protagonistas Nelson e Sara terminam o relacionamento de um mês devido ao futuro incerto da mocinha, já que esta possui uma doença incurável. Ambos sofrem com essa decisão pois não se permitem envolver pela intimidade do amor que os rodeia. E aí, será que valeu a pena?
"Quem pode dizer quando os caminhos se cruzam que o amor deve estar em seu coração? 'Only time' ". Só o tempo dirá. E para isso, precisa-se vivenciá-lo.