segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O canto

Ela se senta no canto da sala. À sua frente, somente a parede fria. Acha estranho sentar virada para a parede. Onde estão as cores? Sentar ali lhe ajuda a pensar em inúmeras coisas... Coisas que quer e que não quer. O que ela quer? Que quer não querer, talvez.

Do outro lado, ele. Também virado para a parede no canto. Agita os pés e pernas, espreguiça e se concentra por trás dos óculos. Páginas e páginas de mentiras passam pelas suas mãos, mas fazer o que? Faz parte... Simplesmente faz parte.

Duas salas... Duas pessoas. O que é que está acontecendo? São horas a fio no silêncio e, quando juntos, só lhes restam sorrisos. Ela passa. Ele olha. Ela senta. Ele para. Observa. Ela finge que não vê. Ela olha. Para. Observa. Ele vê? Não se sabe... Mas quem sabe sente que vê?

E no bailar dos olhos, às vezes, seus olhares se cruzam. Param. A sobrancelha dele se levanta. E um sorriso de desejo, emoldurado por olhos de ressaca, se apresentam a ele. É... É complicado, mas... O que fazer?

E tem elas. Ahhh... Elas. Quem são elas? Coadjuvantes? Ou candidatas a protagonistas? Que mistério! Mas, no fundo, as tais nem interessam a ela... Pois, lá naquele mesmo fundo, aquele samba... Aquele sambinha 'sem vergonha'... foi só para ela. “Foi você?”, pergunta ele. “Foi!”, ela responde. “Que bom! Pois eu gostei”, completa ele. “E eu também”, suspira ela.

Estão tão perto... Tão próximos... E... Tão distantes. O que seria o tal velho samba sincopado? “Chega de pensar”, pensa ela. E para ele, o que será?