quarta-feira, 15 de junho de 2016

Escrever para não sufocar

Escrever para não sufocar. Eu preciso aprender isso de uma vez por todas. Há tempos que não escrevo de fato. As ondas da vida me levarem a oceanos até então desconhecido. Hoje, mais devoro do que vomito palavras. E guardar tudo dentro de si faz mal. Muito mal.
Eu penso diariamente em quem eu sou, quem eu fui, no que eu me tornei e em quem me tornarei. Muitos acham que não, mas eu analiso muito meus pensamentos e atitudes, porque a última coisa no mundo que quero é magoar alguém. Talvez por me importar tanto é que eu me magoe tão facilmente.
Cada cabeça é um mundo. Metafórica-literalmente falando. Podem ter crescido e se desenvolvido juntas, mas no final, cada uma enxerga essa bola azul de maneira diferente. A gente, muitas vezes, não sabe o tamanho da dor que o outro sente. E o outro também não sabe o tamanho da dor que sentimos.
É fácil... tão fácil... ser São Tomé. "Só acredito no que vejo". Sério? Temos cinco sentidos (fora as sensações) e tudo neste mundo se resume à visão? Sério isso? Já pararam pra pensar que, por mais clichê que soe, cada um vive diariamente uma batalha interna consigo mesmo? E que essa batalha se dá devido ao que se vê, ao que se ouve, ao que se sente e ao que se prova?
Assim como temos que entender que somos o que somos pelo o que foi vivido, também temos a capacidade de pensar em sermos melhores nas próximas vivências que o futuro nos reserva. O tempo passa, as vivências acontecem, a gente aprende e amadurece e... bola frente. Vida que segue. Os dedos das mãos são diferentes entre si, assim como nós. Não é porque você sofreu que obrigatoriamente sofrerá novamente. E se proteger desse sofrimento é sofrer ainda mais. Fato. Viver com medo, viver escondido evitando determinadas coisas o faz sofrer de outro jeito: a ausência de viver.
Muitas coisas têm acontecido comigo nos últimos cinco anos. Muitas. Entre quedas e levantadas, eu vou vivendo. Às vezes me pego nessa ausência de viver, pra tentar me proteger. Mas isso nunca me levou muito longe.
Eu ainda sofro com a dor destilada em mim do meu passado. Mas a cada nova dor, eu tento encarar de uma forma diferente, porque adquiri com o tempo a plena noção de que cada situação da nossa vida é diferente uma da outra, por mais que sigamos uma rotina diária. É diferente porque acontecem com pessoas diferentes, em épocas diferentes, em cidades diferentes... E com um "eu" diferente. Porque não... eu não sou igual a ontem, assim como amanhã não serei igual a hoje.
Existem traumas, eu sei. Mas também existe superação, resiliência, companheirismo, cumplicidade, honestidade, humildade. Dificuldades existem, mas existe muito mais coisa bonita pra se sentir.
Enfim... depois de anos, acho que voltei a isso aqui. Se alguém lê, eu não sei, de verdade. Basta que eu leia. Basta que para o meu mundo tudo isso faça sentido. E se, de alguma forma, essas ideias bagunçadas fizerem sentido, ficarei grata por ter me tornado quem hoje sou. E por estar melhorando pra o amanhã.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Breve desassossego fotográfico

A gente tira tanta foto, todos os dias... Posta elas no Facebook... Instagram... E de repente se dá conta que as tiramos para os outros. Sim... Para que fulaninho, beltraninho, sicraninho possam ver o quanto estamos felizes e blá blá blá. A gente esquece que a foto, na verdade, deveria ser para a gente.
Estou falando isso porque há mais ou menos uma hora, meio que espontaneamente, comecei a rever as fotos que já postei. E como foi gostoso!
Passei por cada álbum relembrando cada momento... Relembrando os sentimentos da época... E parando para analisar como estou hoje. O que aconteceu, desde a época daquelas fotos até o momento.
Sabe... eu passei por muita coisa. Não... não pensem que vou chorar minhas mazelas em pleno blog. Sou grata à muita coisa sim, claro. Mas o que eu passei em todos esses anos, desde que comecei a fazer os álbuns, me fez pensar o quanto eu mudei.
Eu, literalmente, era feliz e não sabia. Claro, ué... Minhas maiores preocupações eram estudar para as provas e qual festa eu iria no final de semana. Hoje a realidade é outra, bem diferente. As contas pesam nas costas (e no bolso), as responsabilidades urram pela sua disponibilidade e aceitação.
De repente você se dá conta que os sonhos compartilhados ficam lá trás, num passado gostoso de ser lembrado. Que as vidas à sua volta tomam rumos diferentes... E que você tem que seguir em frente.
Alguns casam, outros juntam... Suas amigas ficam grávidas... Outros vão embora... Outros simplesmente somem. E você se vê seguindo seu rumo, assim como eles, mas de forma diferente. A saudade aperta. A dorzinha chata da solidão insiste em bater à porta, entrar, sentar e tomar um café (muitas vezes muito demorado).
Ao ver as fotos, nota-se já alguma ação do tempo... Alguns engordaram, outros emagreceram, outros já carregam no semblante uma expressão cansada, outros mudam o estilo de se vestir e posar. E quanto mais se futuca nos álbuns, mais se tem certeza que os caminhos seguem direções diferentes e que a única (única e preciosa!) coisa que ainda faz tudo se manter unido é o que foi vivido... E eternizado. Naqueles álbuns. Naquelas fotos. Naquelas poses. Com aquelas roupas. Naquele momento singular.
Passou-se da contemplação para a documentação. Pare para pensar. Você realmente tira fotos para você contemplar? Ou as tira para documentar para os outros uma vida gostosa que, no fim das contas, só você sabe o que realmente significou? Ou pior... documentar uma vida que, no fundo, no fundo, não é sua de fato? Hum...

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

La paix c´est quand tu te pardonnes a toi même...

Olha só o mundo em que vivemos. A época em que vivemos. As ditaduras que vivemos. Certo.
Pode parecer o início de mais um texto categórico sobre não se adaptar a determinados padrões que, entra ano, sai ano, insistem em nos perseguir.
Sim... Eu sou gordinha. Talvez não tanto visualmente, já que a minha estatura é acima da média e minha composição corporal, pelo menos, ajuda na distribuição das gordurinhas. Mas sim... De acordo com cálculos médicos, já me encontro com o IMC elevado... ou seja... Obesidade leve.
E tenho culpa disso. Em vários sentidos. De várias formas... Consciente e inconscientemente.
Estou exatamente 22 kg acima do meu peso ideal, ou seja, do peso considerado saudável. Muitas roupas já não cabem mais em mim e se amontoam no meu armário como metas que almejo, um dia, alcançar. Tá. Até aí tudo bem. Nóia normal de qualquer mulher.
Mas... Pensando bem... O que é que realmente importa? Infelizmente seguir padrões, de fato, trazem bem-estar. Não sejamos hipócritas ao ponto de falarmos “estou bem assim, comendo desse jeito, vestindo 52 (ainda não é o meu caso – risos), cansando ao subir escadas e assando o meio das pernas quando ando”. Não. Ninguém consegue ser feliz assim. E se pararmos para pensar, lá no fundo, no âmago da coisa, não se está feliz assim não pelo padrão não alcançado. Não se está feliz pelas limitações que isso traz.
Mas ao mesmo tempo, há prazeres além de uma calça tamanho 40 (ou 38) e fôlego para caminhar na praia. Comida, querendo ou não, é um prazer. É uma configuração social na qual nos inserimos desde que nos conhecemos por gente. Quem nunca abriu a lancheira na hora do recreio para trocar de lanche com o coleguinha? Ou se deliciou com bolo e refrigerante na casa da vovó? Comer também traz prazer... Ó, meu Deus, e agora?
Passei por muitas transformações nos últimos seis meses da minha vida. Físicas, mentais, espirituais... De todos os tipos. Tive momentos que, na hora, me pareceram solidão mas que depois entendi que eram momentos meus, para me escutar, para me observar, para me entender. E, claro, para me aceitar.
Sim, eu sou gordinha e tenho dificuldade para emagrecer. Sejamos objetivos... O que eu preciso fazer? Fechar a boca e fazer exercícios. Tá... Mas, até que ponto? Até onde posso ir sem que isso me tire os pequenos prazeres (não estou falando só da comida com esta colocação)? Sem perder o bom humor e o otimismo?
Depois de perdas e ganhos, em vários sentidos, cheguei à conclusão que dolorosamente foi marcada com tatuagem: paz é quando você perdoa a si mesmo. Mas... Alto lá! Não levemos esta frase tão ao pé da letra ao ponto de ressignificá-la erroneamente. Não é assim que a banda toca.
Não estou nem um pouco disposta a me enfurnar dentro de uma academia e pagar (caro!) para levantar pesos e andar em bicicletas que não saem do lugar. Isso, para mim, não faz muito sentido. Talvez um dia já tenha feito, porém hoje vejo que há tanta coisa bonita lá fora para ser vista e vivida que, sinceramente, por mais bem que faça, desculpa... Academia, beijo, não me liga!
Caminhar... Sim. Caminhar eu gosto. Olhar as pessoas, as ruas, sentir os cheiros e as elevações do terrenos sob meus pés. Pronto! Encontrei algo que, de fato, eu gosto. Então é isso que eu vou fazer... E que já estou fazendo, também com um propósito. Vou e volto do trabalho usando as pernas que Deus me deu e que foram feitas para isso. Têm uma razão, não é? Por isso as tenho usado.
Relaxar... Sim. Relaxar eu também gosto. E quem não gosta? Quem disse que relaxar é se esparramar no sofá e flexionar os dedos num controle remoto? Não... Não. Yoga, que tal? Sim. Eu gosto. Aliás... Eu amo. A partir do momento que você descobre que seu corpo e sua mente estão diretamente ligados e que existe energia circulando, muita coisa muda dentro de você.
Caminhar e relaxar (entre 'outras cositas más') me fizeram enxergar que sou muito mais que um simples ser humano querendo se encaixar no padrão. Eu sou alguém que, de fato, quer ser feliz comigo mesma e ser feliz também faz parte da boa saúde.
Boa saúde requer boas energias. Então... O que me traz energia? Comidas saudáveis, sim, lógico, mas sem neuras. Frutas, legumes e verduras vêm da terra. Terra é energia, então, por que não consumi-las? São gostosas... E alimentam.
Empanturrar-se também não faz bem. Isso exige do seu corpo mais do que ele pode dar naquele momento. Por isso o sono excessivo, a sensação de empazinamento, a azia... E, muitas vezes, o peso na consciência. Encher-se, realmente, não faz sentido. Tira-lhe os reais prazeres da comida e dos exercícios. Estaguina-lhe. E ficar parado é, consequentemente, ter energia parada. Vale realmente a pena?
Livrar-se de certos venenos também fazem o seu corpo agradecer. Na verdade, livrar-se neste caso seria uma palavra forte. Então... Evitar seria melhor. Ao máximo. Refrigerantes são deliciosos, todos sabem, assim como tudo o que composto de muito açúcar e gordura. Mas pensem... São alimentos igualmente pesados, que vão exigir de você muita energia, por mais que levantem a bandeira de alimentos energéticos. Podem trazer até um certo gás momentaneamente, mas depois... Toda a sua energia se esvai. Vale realmente a pena consumi-los sempre? Não... Acho que não.
Acho que o segredo é não se privar das coisas, quaisquer que sejam elas: comidas, bebidas, exercícios, preguiças. O segredo é equilibrá-las. Tudo foi feito para ser desfrutado. O erro do ser humano é confundir desfrute com exagero. E eu confesso, sem vergonha na cara, que eu era assim. Era comida demais. Preguiça demais. Energia de menos. Saúde de menos.

Não sei quanto tempo vou levar para perder esses 22 kg. E nem sei se realmente quero estipular metas, assim como os padrões nos impõem. Eu só quero ser feliz no fim das contas. Comer o que me faz bem. Suar o que não me faz bem. Relaxar... E amar quem me faz bem. O resto (quem sabe descer do tamanho 46 para o tamanho 40) é só consequência. E sabe como eu cheguei à conclusão disso tudo? Porque descobri que paz, de verdade, é quando você perdoa a si mesmo.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O amor da minha vida

O amor da minha vida tem 1,83m de altura. Vai contra tudo o que eu um dia sonhei para mim. É loiro. É... sempre preferi os morenos e vem um loiro bagunçar a minha vida.
O amor da minha vida tem mãos grossas mas estranhamente macias... suaves... delicadas.
O amor da minha vida está começando a ficar careca. E daí? Não é com a cabeça dele que eu me envolvo.
O amor da minha vida tem as pernas tortas e ombros estreitos. Mas seus olhos... ahhh, seus olhos. Dizem-me tanta coisa... no claro... no escuro... na meia luz... cheios de whisky... cheios de lágrimas.
O amor da minha vida tem a voz grossa e costas cheias de "grains de beauté". Gosta de massagem nas mãos e nos ombros.
O amor da minha vida, quando me deu o primeiro beijo, disse todas as minhas roupas da última semana. E me disse semana passada que eu era uma grande mulher.
O amor da minha vida me deu sua blusa do Fernando Pessoa... seus livros de Van Gogh... seu livro favorito... um narguilé... e uma vontade infinita de estar ao seu lado sempre... sempre...
O amor da minha vida tem uma risada gostosa... que vem bem de dentro...
O amor da minha vida nunca deixa a coca-cola de lado. Quente, fria, gelada, sem gás, com gás... coca-cola é boa de qualquer jeito.
O amor da minha vida gosta de dias nublados. Mas também aproveita os dias de sol... na Urca... molhando a garganta no Belmonte e vendo o Botafogo jogar.
O amor da minha vida tem um chinelo de Portugal e gosta de camisas legais. Fica lindo de casaco de couro e óculos ray ban.
O amor da minha vida vive com fones de ouvidos, os quais divide comigo no metrô e no ônibus.
Ele também traduz as músicas para mim de um jeito completamente particular... e que eu me deleito... e sorrio... e lhe dou um beijo...
O amor da minha vida mora num bairro boêmio... tem uma boemia discreta correndo pelas veias...
Gosta de chopp... gosta de vinho... já falei que gosta de whisky?
E detesta tudo de cor verde... menos ervilha e bala de menta. Ah... caldo verde até toma, mas por causa da linguiça e do bacon.
O amor da minha vida gosta de café expresso... e de Paul McCartney... e chama Keith Richards de avô. Viu Bono Vox a cinco metros de distância, num dia de chuva. Quase teve uma pneumonia.
O amor da minha já morou em São João da Madeira, depois numa vila a 15 minutos do Porto, no distrito de Aveiro... Vila de Cucujaes. Também em Almada, Lisboa.
O amor da minha vida já foi ao show dos Rolling Stones com uma maçã e o caderno Lance! na mão... às 9h da manhã (o show era somente a noite).
O amor da minha vida tem pelos encravados no rosto... e eu o acho lindo quando ele se barbeia.
Ele tem que cortar o cabelo de 15 em 15 dias e usa Homme Kenzo.
O filme favorito dele é "O Poderoso Chefão" e, segundo ele, vai entrar na igreja ao som de "As Tears Go By".
O amor da minha vida é fã de Bukowski. É bizarro... eu sei... mas fazer o que?
É detalhista... é quieto... é solitário... é interessantemente misterioso...
O amor da minha vida sabe fazer carinho... ele acha que não sabe... mas sabe... e só ele me faz carinho do jeito que faz...
O amor da minha vida gosta de morenas... e que tenham cabelos curtos...
Dá satisfação de tudo... se vai na esquina, avisa! Mas, com isso, acha que qualquer coisa me chateia. Não entende que o amo do jeitinho que ele é.
O amor da minha vida acha que o mundo é ruim... e que as pessoas mentem... mas não enxerga que a tal "grande mulher" só lhe quer bem... e que foda-se o que lhe disseram durante a vida inteira! É tudo mentira...! Ele é melhor do que pensa ser... e não precisa ficar sozinho para sempre... porque eu sempre estarei ali...
Estarei ali como amiga, companheira, cúplice, amante... estarei ali para cuidar... e para ser cuidada... cuidada do jeito que só ele sabe cuidar...
O amor da minha vida não acredita em mim... se acredita, prefere me manter distante... prefere me deixar passar direto pela sua vida...
O amor da minha vida é meu maior companheiro... é meu melhor amigo... e meu melhor amante...
Ajudou-me a decidir a pensar grande... ajudou-me a amar ainda mais a cidade que eu já amava... ajudou-se a ser uma pessoa melhor por simplesmente ter permitido ser uma pessoa melhor.
O amor da minha vida sabe a minha música favorita... e "viveu la vida" comigo.. várias... e várias... e várias vezes.
Enfrentou emprego... enfrentou chefe... enfrentou amigos de trabalho... enfrentou sua solidão para ficar comigo.
Escolheu-me depois de tanto tempo com o coração vazio... que privilégio!
O amor da minha vida come lasanha da sadia de uma forma muito engraçada. E sua comida favorita é costelinha de porco.
Ele me dá mariola... chocolate... e caminha horas comigo... só pelo prazer de caminhar.
Várias roupas do amor da minha vida estão na minha casa. E gostaria que ficassem aqui... por muito, muito tempo. Pelo simples fato dele ser o amor da minha vida.
Ele se preocupa se estou triste, apesar de achar que, geralmente, estou triste com ele. Bobagem! Nunca me entristeço com ele. Não há só uma lembrança ruim para guardar, mesmo no dia em que ele tomou cinco doses de whisky e me falou das desgraças do mundo. Desabafos acontecem... e eu estava ali para ouví-lo, ué!
O amor da minha vida diz que gosta de mim... Diz que gosta muito de mim. Mas o amor da minha vida não mais está comigo. Ou está?
O amor da minha vida só me deixou um grande vazio nos últimos dias, que tem me obrigado a dormir enrolada em uma de suas camisas.
O amor da minha vida é sete anos mais velho que eu. Lembra de coisas, com riqueza de detalhes, do ano em que nasci.
É apaixonado por Fórmula 1 e este era seu grande sonho de criança. Adolescente, este sonho mudou para astrônomo. Mas passou para física... E acabou como um grande Design Gráfico.
O amor da minha vida é ambicioso. Mas saudavelmente ambicioso.
Sabe a missa de cor e salteado. Mas não é católico praticante. Aliás, quase foi padre... Mas tem uma "sympanthy for the devil".
Seu Lado B é Roberto Carlos. Emociona-se, sinceramente, quando o rei canta. Prefere o rei à Chico Buarque. "O rei canta para aquela dona de casa que, às 2 da tarde, está na cozinha lavando a louça", diz ele.
O amor da minha vida tem saudade do melhor amigo que foi morar em Vitória. E é melhor amigo da esposa de um dos melhores amigos, cujo bebê que está esperando, reza a lenda, terá o mesmo nome que ele.
Aliás, sabe o que o nome dele significa? "Protetor". Ahhh, e como ele é protetor. Só ele não acredita nisso!
Ele tem uma cadela e gosta muito dela. Ela chora todos os dias quando chega em casa. E ele abre a portinhola da cozinha para deixa-la livre ao lado dele.
O amor da minha vida tem uma manias que gosto tanto... Ele dorme abraçado com o nariz enterrado na minha nuca. Levanta a sobrancelha para cumprimentar os outros e quando recebe meus carinhos, sorri timidamente de lado.
O amor da minha vida fica lindo de rosa e de branco. E gostou muito de um casaco de lá do Peru que te dei.
Gostaria de morar na zona sul, mas se contenta com a zona norte. Gosta de dormir no ônibus e adora comer devagar. Gosta de sacanear os outros, só pelo prazer de lhes causar aquela angústia sadia.
É amigo do ex sogro... e do marido da tia querida.
Tem um sorriso lindo, apesar de se privar do riso muitas vezes.
Gosta de brinquedos de madeira... tipo Pinóquio e Dom Quixote. Gosta deles porque os acha legais... E não se sente obrigado em rir deles como se sentiria se estivesse os assistindo em desenhos animados.
Ele tem caixas e caixas ainda desfeitas da última mudança de casa. E me propôs montar um quebra-cabeça de 3 mil peças, empreitada esta que nem chegamos a começar.
O amor da minha vida pega o mesmo ônibus que eu todos os dias. E reclama do percurso, pois este não lhe dá tempo nem de escolher as músicas favoritas no Ipod.
Acho que o amor da minha vida não gosta muito de andar de mãos dadas... Mas... Quem liga? Ele me dá muito mais do que mãos dadas. Ele me preenche... Me completa...
É... Acho que, enfim, a minha música favorita nunca fez tanto sentido pra mim.
Há um velho ditado que diz que o amor é cego, e ainda assim muitas vezes ouvimos: "buscai e achareis". Então eu decidi procurar um certo rapaz que eu tinha em mente e procurando por toda parte, acabei encontrando.
Ele é o grande caso que eu não posso esquecer. O único rapaz em quem eu sempre penso com arrependimento. Espero que ele acabe sendo alguém que vai cuidar de mim. E sei que eu poderia ser sempre boa para esse alguém que pode cuidar de mim.
Embora eu não seja a mulher que alguns caras achem bonita, para o seu coração eu gostaria de carregar a chave.
Mas o amor da minha vida não acredita em nada disso. Não acredita que eu, de fato, também possa ser o grande amor de sua vida.
De uma coisa eu simplesmente sei, apesar de todos os pesares... que mesmo sem ter chegado ao fim dessa vida, ele é um grande amor!



Para acompanhar a crônica: http://www.youtube.com/watch?v=gLqsIIrk5wQ


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O canto

Ela se senta no canto da sala. À sua frente, somente a parede fria. Acha estranho sentar virada para a parede. Onde estão as cores? Sentar ali lhe ajuda a pensar em inúmeras coisas... Coisas que quer e que não quer. O que ela quer? Que quer não querer, talvez.

Do outro lado, ele. Também virado para a parede no canto. Agita os pés e pernas, espreguiça e se concentra por trás dos óculos. Páginas e páginas de mentiras passam pelas suas mãos, mas fazer o que? Faz parte... Simplesmente faz parte.

Duas salas... Duas pessoas. O que é que está acontecendo? São horas a fio no silêncio e, quando juntos, só lhes restam sorrisos. Ela passa. Ele olha. Ela senta. Ele para. Observa. Ela finge que não vê. Ela olha. Para. Observa. Ele vê? Não se sabe... Mas quem sabe sente que vê?

E no bailar dos olhos, às vezes, seus olhares se cruzam. Param. A sobrancelha dele se levanta. E um sorriso de desejo, emoldurado por olhos de ressaca, se apresentam a ele. É... É complicado, mas... O que fazer?

E tem elas. Ahhh... Elas. Quem são elas? Coadjuvantes? Ou candidatas a protagonistas? Que mistério! Mas, no fundo, as tais nem interessam a ela... Pois, lá naquele mesmo fundo, aquele samba... Aquele sambinha 'sem vergonha'... foi só para ela. “Foi você?”, pergunta ele. “Foi!”, ela responde. “Que bom! Pois eu gostei”, completa ele. “E eu também”, suspira ela.

Estão tão perto... Tão próximos... E... Tão distantes. O que seria o tal velho samba sincopado? “Chega de pensar”, pensa ela. E para ele, o que será?