domingo, 28 de dezembro de 2008

Paixão... Amor... ?

Uma vez lí um livro do Arnaldo Jabor intitulado "Amor é prosa, sexo é poesia". Segundo o articulista, a inspiração para sua coletânea de crônicas sobre o assunto foi a música da Rita Lee, que leva o mesmo nome.
Parando para pensar e arrumando algumas gavetas, eis que acho um texto meu escrito em março de 2005. Meu comparativo é o amor e a paixão. Talvez não tenha conseguido descrevê-los à altura (missão impossível), mas acho que dá para se ter uma idéia da diferença entre os dois. Pelo menos creio que era o meu estado de espírito na época. Segue o texto:

Paixão x Amor

(Lara Gouvêa)

Paixão é sexo... amor é "fazer" amor
Paixão é vermelho... amor, arco-íris
Paixão é lâmpada incandescente... amor, a luz do Sol
Paixão é ciúme... amor, compreensão
Paixão é a dor... amor, estender a mão
Paixão é viagem surpresa... amor, carta surpresa
Paixão é calor... amor, a brisa à beira do mar
Paixão é horror... amor, clássicos de Chaplin
Paixão é crepúsculo... amor, o dia inteiro
Paixão é holofote... amor, luz de candeeiro
Paixão é carnaval... amor, quatro semanas depois
Paixão é animal... amor, bicho de pelúcia
Paixão são duas horas... amor são duas vidas
Paixão cai na rotina... amor é diferente todo dia
Paixão te desloca... amor, te coloca
Paixão tem dois mil anos... amor, a eternidade
Paixão é ferida... amor dói e não se sente
Paixão é gargalhada... amor, sorriso da Monalisa
Paixão é roda gigante... amor, balanço do parque
Paixão é pimenta... amor, chocolate
Paixão é grito... amor, sussurro
Paixão é Schummacher... amor é Senna
Paixão é torre Eiffel... amor, tapete da nossa casa
Paixão é cheiro... amor, aroma
Paixão são planos... amor são práticas
Paixão é briga... amor, o depois
Paixão é egoísmo... amor, perfeição
Paixão é presente... amor, "futuro-mais-que-perfeito"
Paixão é Judas... amor, divisão do pão
Paixão é erro reversível... amor, carinho irreversível
Paixão é mudança brusca... amor é criar raízes
Paixão é fulgás... amor, "full of gas"
Paixão...
... Amor

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Espelho = ohlepsE

Os sentimentos nada mais são que a manifestação de um espírito auto afirmativo. Não falo de cada sentimento em específico. Falo de todos os tipo, manifestados à outra pessoa, sejam eles bons ou ruins. Quando não gostamos de algo em alguém, tendenciamos a afirmar que existe ódio. E, quando o contrário acontece, falamos em amor.
Por estarmos constatemente ligados ao automático esquecemos de nos analisarmos. Não paramos pra pensar em nossas ações. Com quem quer que nos relacionemos, exigimos de tal pessoa a perfeição. Exigimos uma perfeição que não existe nem em nós. Buscamos cobrir os nossos erros a partir de expectativas criadas. E quando estas são frustradas, tendemos a julgar o próximo. Mas que coisa feia...
Não podemos nos definir como seres "defeituosos". Muito menos perfeitos. Estamos em constantes lições, a cada momento, cada segundo, cada situação... Quase ninguém repara nas particularidades da vida, aquelas pequeninas cujo dever está justamente em mostrar o certo e o errado, o bom e o mal, esperando para serem processadas e devidamente armazenadas como aprendizado.
Muitos também têm a péssima mania de desperdiçar oportunidades. Desperdiça-se um sorriso, um cumprimento, um "obrigado", um "por favor". Deixa-se de viver os momentos... passam-se grandes situações. Aí ousam clamar aos quatro ventos: "como minha vida é monótona...". Se assim pensa, assim é... Ou não é?
Devemos abolir o clichê "aprenda com os próprios erros", sabe por que? Porque nem todos sabem quando estão errando e muitos acreditam que erros são erros e assim sempre serão. Por que não podemos afirmar que são acertos? São eles que nos constroem. Devemos, sim, é atentar para o erro (ou seria acerto?) dos outros de forma que paremos para analisar se são os mesmos por nós cometidos. Ao exercitar tal "dever de casa" passaremos a enxergar as pessoas de forma diferente. Existirá menos ódio, talvez... crescerá mais amor, quem sabe?
Procure quem lhe faça bem. Dessa forma conhecerá suas qualidades. Aproxime-se de quem lhe faz mal. Assim saberá o que, em você, incomoda nas pessoas. Sabendo disso, evoluir passa a ser um trabalho gostoso, porém constante... eterno. Pois ouro e flores não entram no céu, morrem e caem ao chão. Mas a nossa presença como lembrança gostosa é para sempre afinal, sem pieguisses, "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" (Antoine de Saint Exupéry). Amém!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Cinestesia

A comunicação é uma das coisas mais lindas que existem no planeta. Pareço suspeita por fazer esta afirmativa, mas paremos para pensar profundamente nela.
Tudo é comunicação. As palavras que por nós são proferidas, os movimentos que fazemos com as nossas mãos, nossos pés e pernas... nossos lábios, maçãs do rosto e olhos. Todos, se esforçando um pouco, podem ler o próximo, sentindo-o da forma mais intensa que puder existir.
Aprendi com uma amiga como treinar meus vários canais de comunicação. E como identificar o mais existente em mim. Ser visual, auditivo ou cinestésico é ser mais que conceitos. É possuir as portas e janelas para enxergarmos, ouvirmos e sentirmos o mundo. E me divirto inconsciente e intensamente brincando de detectar em mim mesma a maneira como me expresso com o mundo.
Outro dia desses fui à praia e tirei da sacola de um amigo um tudo de gel para cabelo. Sem perceber, a primeira coisa que fiz foi abrir a embalagem para sentir o produto em minhas mãos. Senti como era visguento e gelado. Depois, aproximei de meu nariz e senti o perfume. Cheirava fortemente a álcool. Em seguida coloquei uma certa quantidade em minhas mãos e esfreguei-as. Queria sentir como era aquela espécie de colóide em uma superfície maior do meu corpo, e como eu me sentia. De certa forma era refrescante, mas ao mesmo tempo grudento. E somente depois de tudo isso, notei que tanto a embalagem como o produto eram laranjas.
Dei-me conta que havia simplesmente tido um momento cinestésico. Eu quis sentir aquilo que, muitas vezes, passa despercebido pela maioria das pessoas. E foi interessante me dar conta que eu simplesmente, naquele instante, desliguei o meu modo automático e notei algo normalmente imperceptível.
Dei-me conta também que fazemos tudo do dia-a-dia sem medir as causas e consequências. Tudo tem sido muito previsível, normal, banal... cadê aquele pensamento mágico que nos permeava na infância de andar pela calçada sem pisar na linha ou apontar euforicamente um cachorrinho, gritando "óia o au au mamãe!!!" ? Cadê aquele fascínio pela luz e aquele medo do escuro? Cadê a percepção em ouvir o farfalhar das folhas na árvore, e na sensibilidade em distinguir os mais variados arrepios?
Andamos pelas ruas sem olhar para mais nada, objetivando apenas o destino. Que futuro é esse que sempre corremos para chegar e esquecemos de olhar o caminho que estamos percorrendo? Cadê a nossa capacidade de sorrir quando passamos por algum lugar que nos foi especial em determinado momento da vida? Ou de sentirmos medo de determinada rua que, algum dia, passamos por algum tipo de dificuldade? Por que não mais sentimos o aroma da comida assim que ela é posta no prato ainda fumegando? Apenas a engolimos, sem ao menos degustar todos os inúmeros temperos que ali estão.
Nesse mesmo dia do gel, mais cedo, sentei na beirada da água e proseando com um amigo, sentia o Sol queimando a minha pele. Mas senti não com o intuito visual, mas sim o que o Sol me causava, internamente, esquentando meu corpo. Senti também a areia da praia em meus pés, penetrando entre meus dedos, cobrindo-os.
Sentir é tão bom. É tão mais sincero. Sentir não engana a intuição. A visão sim! "Nem tudo o que é, assim lhe parece ser". Perceber através das minúcias que estão a nossa frente é muito mais divertido... interessante... envolvente.... apaziguador... emocionante... é muito mais importante! Como diz a minha amiga "o mundo tem que ser menos visual... tem que ser mais cinestésico". Comuniquemo-nos!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Só Para os Corações

Nesses últimos meses que se passaram tive mais e mais exemplos de como a saudade é um sentimento traiçoeiro. Pessoas se foram... pessoas vieram. Idas e vindas infinitas em nossa vida às vezes nos deixam tontos sem nem ao menos entender o que se acontece no presente. Ah, o presente! Ele é o agora e passa tão rápido que nem ao menos dá tempo de degustar, engolir e fazer a digestão. Quando nos damos conta, já foi excretado para um passado longínquo, cheio de momentos nostálgicos e lágrimas saudosas.
No último mês que passou fui à minha cidade natal para certos deveres como estudante de comunicação que sou. Primeiro ponto: encontrei os amigos que convivo todos os dias. Aqueles que, nos últimos quatro anos (que já se tornaram mais que excrementos: tornaram-se os adubos que fertilizaram quem sou hoje), estiveram juntos comigo. Apesar de saber que todos estariam lá, foi uma imensa surpresa para mim vê-los por outro ângulo.
Os vi acordar com os cabelos assanhados e mal hálito. Os ví de cara limpa, escovando os dentes, trocando de roupa... os ví no estado de sonolência leve e profundo. Ouvi quem roncava, notei quem nem ao menos se mexia enquanto dormia. Descobri quem usava secador de cabelo e quem lavava a cueca de forma correta. Notei quem dormia pesado e quem acordava com qualquer ruído. Presenciei conflitos, sorrisos, abraços, lágrimas, bebedeiras. Tentei enxergar em seus íntimos o que havia de mais profundo e isso me enriqueceu de uma forma incrível.
Mas sabe o que também me enriqueceu? Aqueles amigos que eu ainda não conhecia. Aqueles que dormiram nos quartos ao lado e se pronunciavam pelo nome do seu Estado de origem. Como essas coisas são interessantes! Houve, de certa forma, um certo patriotismo entre todos que ali estavam alojados. E nós próprios brincávamos com essa situação já que diziamos "ah, vamos ali na Paraíba" ou "hoje vou dormir em Brasília".
Esses amigos tornaram-se presenças tão raras que chega a doer no peito a miserável da saudade. É incrível como Einstein realmente estava certo: tudo é relativo. Dez minutos namorando não são dez minutos estudando. Realmente não são. E o que é uma semana para amizades sinceras? Muito podem até dizer que quando somos jovens tudo é colorido, bonito... fingido. Mas nesse caso não foi. Não é. E nunca será. Ainda estamos em processo de digestão. Mas deixe-me contar como foi a degustação.
Começamos a nos aproximar no segundo dia. Cada um de um canto do país foi se agregando devagarinho, sem pretensão alguma. As brincadeiras surgiram, os sorrisos brotaram, as mãos dadas tornaram-se rotina, os abraços mais que comuns. Mas não somente momentos bons. Os desabafos diante das mazelas da vida começaram a surgir. Situações de risco não faltaram para que pudéssemos colocar as duas mãos na cabeça prestes a arrancarmos os cabelos. Passamos por tudo o que uma amizade de 20 anos já poderia ter passado. "Seguramos as pontas" nas bebedeiras, aconselhamos, torcemos, dormimos e acordamos juntos. Como foi bom receber um "bom dia" de cada uma dessas pessoas. Cada um ainda está guardado e abro meus olhos na esperança de recebê-lo de quem quer que seja.
Hoje levanto-se em direção ao banheiro de minha casa ainda na esperança de dividir a pia e a pasta de dente com alguém. Acostumei, inclusive, a colocar as lentes de contato assim que acordo para que não pudessem me ver de óculos. Além, claro, do sutiã afinal estava eu no meio de tantas pessoas que me envergonharia com tanta intimidade.
Ah, que saudade das músicas e das situações por nós criadas. Quantos paradigmas ainda faltávamos cantar? Quantas delícias ainda faltavam por serem provadas? Quantos cumprimentos deixamos de dar? Quantos segredos ainda por dividir... quantas aceleradas nossos corações deixaram de dar? Quantas paixões poderiam ter sido incessantemente vividas? Quantos pôr-dos-sóis ainda tinhamos que ver e quantas músicas ainda para dançar? Quantos assuntos ainda tinhamos que discutir?
Ao mesmo tempo que faltaram coisas, fizemos tanto que tudo se tornou mais que inesquecível. Impregnou-se na alma, na essência de cada um. Modificou de forma particular o particular de todos. Ao fim de sete dias cada um voltou para seu Estado de fato: Paraíba, Brasília, Goiânia, Mato Grosso do Sul, Bahia, Maceió, Recife... Sergipe. E agora?
Agora vejo mais um exemplo do que escrevi no texto anterior. A saudade vem como os primeiros feixes de luz da manhã: lenta e confortantemente. Para depois arder e queimar como o sol do meio dia. Acho que cheguei nesse nível. Pois algo insiste em arder aqui dentro do peito, a ponto de doer e me fazer derrubar as mais sinceras e tristes lágrimas que em mim existem.
Falei no texto anterior da distância dos corações, não de corpos. Nesse, falo das duas. E a tristeza que em mim insiste me remete ao último dia daquela semana onde todos se abraçaram. Mas se abraçaram de verdade, não somente com os braços e os troncos. Onde todos se abraçaram com todos os cinco sentidos e o sexto e mais importante: a alma. Como disse um amigo, dias depois: naquele momento via-se a sinceridade nos olhos de cada um. E via-se mesmo.
E qual o destino de cada um? Não sei. Não sei se retornaremos a nos ver um dia.
Como diz um trecho de uma música que ouvi: e a conta da saudade, quem é que paga? Boa pergunta. Pois ela tem devido até as próprias calças ao SPC: Só Para os Corações.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Chega de saudade

Ah, saudade...

Quem nunca sentiu saudade? De um doce, uma época, de uma ou várias pessoas...! O tempo passa, as coisas mudam. Coisas, tempos, situações... pessoas. Os erros já foram cometidos, os acertos, feitos para redimí-los. Mas a saudade vem como o primeiro feixe de luz do sol da manhã entrando pela janela do quarto: lentamente e confortante. Para daí arder e queimar com o calor do meio-dia.
A saudade é um sentimento bom? Depende do que se sente saudade. Quando são situações concluídas no passado, a saudade vem para remeter o quanto fomos felizes, ou o quanto pudemos aprender. É aquela lembrança boa vinda juntamente com uma música, ou o sabor de uma comida especial. Até mesmo a fragância de um perfume a tempos não sentido nos transporta para aquele ano, naquele dia daquele mês. Nossos olhos chegam a brilhar de nostalgia.
Mas a saudade também pode ser um sentimento ruim. Aquela que nos faz lamentar algo que passou e que, talvez, nunca mais volte. A fotografia de um determinado momento, a sensação de que alguém especial não mais retornará pelo fato de já ter morrido... ou até mesmo de que alguém especial não mais retornará...para si. A pior saudade é aquela sentida quando ainda há proximidade dos corpos físicos, mas não mais das sensações.
Estar a cinco metros de distância de alguém e não poder mais tocá-la, abraçá-la, sentir seu característico cheiro é algo dilacerante. Estar perto e não mais pegar em suas mãos, dar um abraço, sussurrar e ouvir coisas ao pé do ouvido. Pensar só depois quais palavras poderiam ter sido ditas e quais atitudes poderiam ter sido tomadas. A pior saudade é a saudade do inacabado. É sentir falta de situações que aconteceram e que poderiam vir a acontecer. A pior saudade é a das oportunidades perdidas.
O tempo há de passar. "Todos os dias é um vai e vem" já dizia Milton Nascimento. Tem gente que veio para ficar, tem gente que vai para nunca mais. Tem gente que vem e quer voltar, tem gente que vai e quer ficar, tem gente que veio só olhar, tem gente a sorrir e a chorar. Então, faça por onde não sentir mais a saudade dolorosa. Aja, atue, documente, fale, viva, sinta...! Pois a hora do encontro é também despedida. E depois do "adeus", pode ser tarde demais...!

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Doce Abril...

Há alguns anos atrás assisti a um filme a princípio piegas. A história girava em torno de duas pessoas que se conheciam "de repente"... ele, um executivo bem sucedido desprovido de verdadeiras paixões... ela, o oposto, uma "carpe diem" que acredita piamente nos amores curtos, porém, arrebatadores. O roteiro se repete a fim de incitar nas pessoas o sentimento de "o-amor-pode-estar-ao-seu-lado"... ou "não-deixe-as-oportunidades-passarem".
Sobem os créditos, ouvem-se os suspiros da platéia, as luzes se acendem e... voltemos todos para casa. Mas, e aí?
O cinema explicita determinadas situações que nos fazem acreditar que são reais. O tempo passa, vivemos inúmeras experiências, conhecemos diversar pessoas, visitamos lugares inusitados... e ali naquele detalhe, aquele dia, notamos uma leve semelhança com o que passa na tela.
Tive a prova disso outro dia, conversando com uma amiga que há tempos não via. Ouvi uma história parecida com a do filme. Saída recentemente de um relacionamento extremamente difícil, ela não esperava em hipótese alguma vivenciar prematuramente um sentimento tão intenso. Mas aconteceu. E aconteceu com a última pessoa da face da Terra que poderia dar certo, segundo ela.
A coisa começou de brincadeira. Nenhum dos dois tinha qualquer intenção. Inclusive jurara a si mesma que não passaria de um dia. Mas veio o dia seguinte... e o seguinte... e o seguinte. Mãos dadas, beijos carinhosos, sussurros ao pé do ouvido. Conselhos de cuidado, olhares de preocupação... apelidos carinhosos, supostas "juras". Até mesmo confissões subliminares e promessas subentendidas de relacionamento único.
Ao contar, com todos os detalhes, cada particularidade da vida a dois, os olhos de minha amiga marejavam-se de forma saudosa. E eu ouvia atentamente.
Mas, em um determinado momento, o medo da intimidade falou mais alto. Entre a cruz e a caldeirinha, de repente, o rapaz chamou-a a um canto e explicou sua situação. E que situação! Aquela que todas as mulheres temem e rezam para nunca lhes acontecer. Sentou-a em um banco e contou-lhe sobre seu passado. Em clima de confessionário, fez ela papel de vigário. Ao dizer tudo talvez ele tenha pensado que receberia em troca o silêncio ou um "tudo bem, compreendo".
Foi aí então que minha amiga encheu o peito e disse à ele, orgulhosa, que "o ser mais irracional do mundo é o ser humano: faz a mesma coisa todos os dias objetivando resultados diferentes".
Palavras bonitas... boas intenções. Ele avisou-lhe que, a qualquer momento, as coisas poderiam mudar de rumo. E que tinha a certeza de sua culpa afinal, inerente à sua vontade, ele criava uma barreira em volta de si próprio. Sempre.
Minha amiga não desistiu. Pensou que seria o diferencial e, após dois longos dias de choro, renovou-se e continuou seguindo em frente. Mas era tarde demais. Aquela conversa fora o início do fim. Tudo foi murchando... as palavras tornaram-se escassas, os sussurros idem. Mãos dadas tornaram-se raras... promessas foram desfeitas. Tudo durou apenas um mês.
Um mês... quatro semanas... 30 dias...! É o suficiente para se tornar inesquecível? É isso o que propõe boa parte do filme que assisti. Mas por que acabar com algo que pode dar certo? Por que viver a vida tão loucamente a ponto de não vivê-la o suficiente? Por que tanto medo, angústia, bloqueio... por que o medo de viver?
Ela, lamentavelmente, optou pela decisão, a curto prazo, mais dolorosa. "Abortarei essa missão, amiga", disse-me cheia de dor. "Sei que poderia ter feito a diferença... sei que poderia tê-lo feito feliz... mas não depende só de mim". É pela indecisão que se perdem as oportunidades, já dizia Publílio Siro.
Tudo está ficando mais difícil e principalmente as relações humanas. Não nos cumprimentamos mais, nem conhecemos quem são nossos vizinhos. Nos resumimos à relações virtuais não somente no sentido cibernético mas no sentido real do virtual. Fingimos ser algo para fingirmos a vivência de algo. No final das contas a única coisa real é o sentimento de vazio que nos sobra. O que somos? Aliás... o que estamos nos tornando?
Banalizaram-se os relacionamentos... tudo é "faz-de-conta", e isso muitas vezes machuca. Vide a minha amiga!
Como diz o Jabor... paremos de venerar peitos e bundas. E ainda acrescento: paremos de venerar a "pegação", o "rala-e-rola". Para quê? Somos humanos providos de sentimentos, seres completamente racionais capazes de discernir o certo do errado. Viver o agora? É interessante e atrativo... e por que não vivê-lo com qualidade, e não com quantidade? Torna-se mais atrativo ainda.
Quantas pessoas deixamos passar em nossas vidas pelo medo do desconhecido? O novo é bom, traz experiências, nos enriquece cultural e humanamente. Por que não se envolver com o novo? É assim que sabemos se valerá ou não a pena.
Não devemos viver por conta de um passado. Ele serve apenas para não repetirmos os mesmos erros. E também não devemos viver a mercê de um futuro, afinal, ele ainda nem chegou e deve ser construído no agora, no presente. Não nos igualemos jamais. Todos somos diferentes, em vários aspectos. Deveríamos abolir da língua portuguesa a palavra "generalização". Para que generalizar se há sempre um detalhe capaz de diferenciar?
No fim do filme, os protagonistas Nelson e Sara terminam o relacionamento de um mês devido ao futuro incerto da mocinha, já que esta possui uma doença incurável. Ambos sofrem com essa decisão pois não se permitem envolver pela intimidade do amor que os rodeia. E aí, será que valeu a pena?
"Quem pode dizer quando os caminhos se cruzam que o amor deve estar em seu coração? 'Only time' ". Só o tempo dirá. E para isso, precisa-se vivenciá-lo.