quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Cinestesia

A comunicação é uma das coisas mais lindas que existem no planeta. Pareço suspeita por fazer esta afirmativa, mas paremos para pensar profundamente nela.
Tudo é comunicação. As palavras que por nós são proferidas, os movimentos que fazemos com as nossas mãos, nossos pés e pernas... nossos lábios, maçãs do rosto e olhos. Todos, se esforçando um pouco, podem ler o próximo, sentindo-o da forma mais intensa que puder existir.
Aprendi com uma amiga como treinar meus vários canais de comunicação. E como identificar o mais existente em mim. Ser visual, auditivo ou cinestésico é ser mais que conceitos. É possuir as portas e janelas para enxergarmos, ouvirmos e sentirmos o mundo. E me divirto inconsciente e intensamente brincando de detectar em mim mesma a maneira como me expresso com o mundo.
Outro dia desses fui à praia e tirei da sacola de um amigo um tudo de gel para cabelo. Sem perceber, a primeira coisa que fiz foi abrir a embalagem para sentir o produto em minhas mãos. Senti como era visguento e gelado. Depois, aproximei de meu nariz e senti o perfume. Cheirava fortemente a álcool. Em seguida coloquei uma certa quantidade em minhas mãos e esfreguei-as. Queria sentir como era aquela espécie de colóide em uma superfície maior do meu corpo, e como eu me sentia. De certa forma era refrescante, mas ao mesmo tempo grudento. E somente depois de tudo isso, notei que tanto a embalagem como o produto eram laranjas.
Dei-me conta que havia simplesmente tido um momento cinestésico. Eu quis sentir aquilo que, muitas vezes, passa despercebido pela maioria das pessoas. E foi interessante me dar conta que eu simplesmente, naquele instante, desliguei o meu modo automático e notei algo normalmente imperceptível.
Dei-me conta também que fazemos tudo do dia-a-dia sem medir as causas e consequências. Tudo tem sido muito previsível, normal, banal... cadê aquele pensamento mágico que nos permeava na infância de andar pela calçada sem pisar na linha ou apontar euforicamente um cachorrinho, gritando "óia o au au mamãe!!!" ? Cadê aquele fascínio pela luz e aquele medo do escuro? Cadê a percepção em ouvir o farfalhar das folhas na árvore, e na sensibilidade em distinguir os mais variados arrepios?
Andamos pelas ruas sem olhar para mais nada, objetivando apenas o destino. Que futuro é esse que sempre corremos para chegar e esquecemos de olhar o caminho que estamos percorrendo? Cadê a nossa capacidade de sorrir quando passamos por algum lugar que nos foi especial em determinado momento da vida? Ou de sentirmos medo de determinada rua que, algum dia, passamos por algum tipo de dificuldade? Por que não mais sentimos o aroma da comida assim que ela é posta no prato ainda fumegando? Apenas a engolimos, sem ao menos degustar todos os inúmeros temperos que ali estão.
Nesse mesmo dia do gel, mais cedo, sentei na beirada da água e proseando com um amigo, sentia o Sol queimando a minha pele. Mas senti não com o intuito visual, mas sim o que o Sol me causava, internamente, esquentando meu corpo. Senti também a areia da praia em meus pés, penetrando entre meus dedos, cobrindo-os.
Sentir é tão bom. É tão mais sincero. Sentir não engana a intuição. A visão sim! "Nem tudo o que é, assim lhe parece ser". Perceber através das minúcias que estão a nossa frente é muito mais divertido... interessante... envolvente.... apaziguador... emocionante... é muito mais importante! Como diz a minha amiga "o mundo tem que ser menos visual... tem que ser mais cinestésico". Comuniquemo-nos!