segunda-feira, 6 de junho de 2011

Frio




O frio é chic. De repente surgem nas ruas pessoas de casacos e cachecóis estrategicamente posicionados em volta do pescoço. E o frio também é fashion. Cria-se moda para adaptar o armário dos tupiniquins aos ventos gelados. O frio é controlador, pois controla as expressões de calor existentes em cada rosto que sai da porta de casa.
O frio é besta. É besta sim. Porque nos trancafia em nós mesmos. O frio nos torna individualista, nos obrigando a entrar em contato com nosso próprio "eu", um "eu" de pés gelados e unhas cianóticas. Um "eu" empalidecido pela falta de Sol e pela falta do suor que deixa de escorrer pela tez.
Ele encarece nossas contas, nos obriga a andar de chinelos ou pantufas e nos permite ver várias vezes ao dia nossa pele arrepiar por livre e espontânea pressão. O frio permite a mão gelada se esquentar nas costas quentes de uma sereia e também a um enroscar de corpos em forma de concha.
O frio pede a janela fechada. E pede leite bem quente de manhã. Nos impossibilita de abrir os olhos bem cedo e nos obriga a fechá-los somente muito tarde. Ficar nua é um sacrifício. Manter-se fora da água quente, um suplício. Shorts agora só com meia-calça e blusas de alça, só com blusas de linha por dentro (ou por fora).
O frio pede garrafa pet com água quente em cima da cama. E se torna inimigo por não mais nos permite comer coisas leves. No frio queremos massas, queijos, vinhos, chocolates. Merda... toda a dieta vai por água a baixo.
O frio também pede cabelos escuros e peles desbotadas. Pede meias, luvas, gorros. Mas o frio , talvez, ainda não tenha sido suficiente para nos fazer criar algo que aqueça o coração. Pelo menos não para mim que, entra frio, sai frio, ainda deito para dormir com o coração gelado e que grita em silêncio que vai morrer de hipotermia.