sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Só Para os Corações

Nesses últimos meses que se passaram tive mais e mais exemplos de como a saudade é um sentimento traiçoeiro. Pessoas se foram... pessoas vieram. Idas e vindas infinitas em nossa vida às vezes nos deixam tontos sem nem ao menos entender o que se acontece no presente. Ah, o presente! Ele é o agora e passa tão rápido que nem ao menos dá tempo de degustar, engolir e fazer a digestão. Quando nos damos conta, já foi excretado para um passado longínquo, cheio de momentos nostálgicos e lágrimas saudosas.
No último mês que passou fui à minha cidade natal para certos deveres como estudante de comunicação que sou. Primeiro ponto: encontrei os amigos que convivo todos os dias. Aqueles que, nos últimos quatro anos (que já se tornaram mais que excrementos: tornaram-se os adubos que fertilizaram quem sou hoje), estiveram juntos comigo. Apesar de saber que todos estariam lá, foi uma imensa surpresa para mim vê-los por outro ângulo.
Os vi acordar com os cabelos assanhados e mal hálito. Os ví de cara limpa, escovando os dentes, trocando de roupa... os ví no estado de sonolência leve e profundo. Ouvi quem roncava, notei quem nem ao menos se mexia enquanto dormia. Descobri quem usava secador de cabelo e quem lavava a cueca de forma correta. Notei quem dormia pesado e quem acordava com qualquer ruído. Presenciei conflitos, sorrisos, abraços, lágrimas, bebedeiras. Tentei enxergar em seus íntimos o que havia de mais profundo e isso me enriqueceu de uma forma incrível.
Mas sabe o que também me enriqueceu? Aqueles amigos que eu ainda não conhecia. Aqueles que dormiram nos quartos ao lado e se pronunciavam pelo nome do seu Estado de origem. Como essas coisas são interessantes! Houve, de certa forma, um certo patriotismo entre todos que ali estavam alojados. E nós próprios brincávamos com essa situação já que diziamos "ah, vamos ali na Paraíba" ou "hoje vou dormir em Brasília".
Esses amigos tornaram-se presenças tão raras que chega a doer no peito a miserável da saudade. É incrível como Einstein realmente estava certo: tudo é relativo. Dez minutos namorando não são dez minutos estudando. Realmente não são. E o que é uma semana para amizades sinceras? Muito podem até dizer que quando somos jovens tudo é colorido, bonito... fingido. Mas nesse caso não foi. Não é. E nunca será. Ainda estamos em processo de digestão. Mas deixe-me contar como foi a degustação.
Começamos a nos aproximar no segundo dia. Cada um de um canto do país foi se agregando devagarinho, sem pretensão alguma. As brincadeiras surgiram, os sorrisos brotaram, as mãos dadas tornaram-se rotina, os abraços mais que comuns. Mas não somente momentos bons. Os desabafos diante das mazelas da vida começaram a surgir. Situações de risco não faltaram para que pudéssemos colocar as duas mãos na cabeça prestes a arrancarmos os cabelos. Passamos por tudo o que uma amizade de 20 anos já poderia ter passado. "Seguramos as pontas" nas bebedeiras, aconselhamos, torcemos, dormimos e acordamos juntos. Como foi bom receber um "bom dia" de cada uma dessas pessoas. Cada um ainda está guardado e abro meus olhos na esperança de recebê-lo de quem quer que seja.
Hoje levanto-se em direção ao banheiro de minha casa ainda na esperança de dividir a pia e a pasta de dente com alguém. Acostumei, inclusive, a colocar as lentes de contato assim que acordo para que não pudessem me ver de óculos. Além, claro, do sutiã afinal estava eu no meio de tantas pessoas que me envergonharia com tanta intimidade.
Ah, que saudade das músicas e das situações por nós criadas. Quantos paradigmas ainda faltávamos cantar? Quantas delícias ainda faltavam por serem provadas? Quantos cumprimentos deixamos de dar? Quantos segredos ainda por dividir... quantas aceleradas nossos corações deixaram de dar? Quantas paixões poderiam ter sido incessantemente vividas? Quantos pôr-dos-sóis ainda tinhamos que ver e quantas músicas ainda para dançar? Quantos assuntos ainda tinhamos que discutir?
Ao mesmo tempo que faltaram coisas, fizemos tanto que tudo se tornou mais que inesquecível. Impregnou-se na alma, na essência de cada um. Modificou de forma particular o particular de todos. Ao fim de sete dias cada um voltou para seu Estado de fato: Paraíba, Brasília, Goiânia, Mato Grosso do Sul, Bahia, Maceió, Recife... Sergipe. E agora?
Agora vejo mais um exemplo do que escrevi no texto anterior. A saudade vem como os primeiros feixes de luz da manhã: lenta e confortantemente. Para depois arder e queimar como o sol do meio dia. Acho que cheguei nesse nível. Pois algo insiste em arder aqui dentro do peito, a ponto de doer e me fazer derrubar as mais sinceras e tristes lágrimas que em mim existem.
Falei no texto anterior da distância dos corações, não de corpos. Nesse, falo das duas. E a tristeza que em mim insiste me remete ao último dia daquela semana onde todos se abraçaram. Mas se abraçaram de verdade, não somente com os braços e os troncos. Onde todos se abraçaram com todos os cinco sentidos e o sexto e mais importante: a alma. Como disse um amigo, dias depois: naquele momento via-se a sinceridade nos olhos de cada um. E via-se mesmo.
E qual o destino de cada um? Não sei. Não sei se retornaremos a nos ver um dia.
Como diz um trecho de uma música que ouvi: e a conta da saudade, quem é que paga? Boa pergunta. Pois ela tem devido até as próprias calças ao SPC: Só Para os Corações.

3 comentários:

Unknown disse...

q profundo...
;x
"ai meu paradigma, opa rapai, ta garowlhando entre outras."

Unknown disse...

È BOM FAZER PARTE DESSA SAUDADES!!!
PARADIGMAS SERÃO SEMPRE PARADIGMAS!!!
BJUS

Renata Brügger disse...

Enquanto eu lia percebi como gosto da maneira como vc descreve e poetiza...tudo é mesmo relativo, poucas pessoas têm a capacidade de viver algo assim tão intenso em tão pouco tempo, são pessoas que conseguem ser de verdade...esqueça o tempo, a situação, o momento, pessoas verdadeiras sabem qdo encontram pessoas verdadeiras e sabem ser juntas toda essa coisa linda q vc escreveu...amei seu texto, me deixei levar, fui abduzida mesmo por ele...rss...

"Quando cai a noite é bom tomar um banho e sob o chuveiro é bom sentir saudade...Ruim é não ter saudade" [Pedro Bial - Bom, ruim, assim, assim]

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