segunda-feira, 5 de maio de 2008

Doce Abril...

Há alguns anos atrás assisti a um filme a princípio piegas. A história girava em torno de duas pessoas que se conheciam "de repente"... ele, um executivo bem sucedido desprovido de verdadeiras paixões... ela, o oposto, uma "carpe diem" que acredita piamente nos amores curtos, porém, arrebatadores. O roteiro se repete a fim de incitar nas pessoas o sentimento de "o-amor-pode-estar-ao-seu-lado"... ou "não-deixe-as-oportunidades-passarem".
Sobem os créditos, ouvem-se os suspiros da platéia, as luzes se acendem e... voltemos todos para casa. Mas, e aí?
O cinema explicita determinadas situações que nos fazem acreditar que são reais. O tempo passa, vivemos inúmeras experiências, conhecemos diversar pessoas, visitamos lugares inusitados... e ali naquele detalhe, aquele dia, notamos uma leve semelhança com o que passa na tela.
Tive a prova disso outro dia, conversando com uma amiga que há tempos não via. Ouvi uma história parecida com a do filme. Saída recentemente de um relacionamento extremamente difícil, ela não esperava em hipótese alguma vivenciar prematuramente um sentimento tão intenso. Mas aconteceu. E aconteceu com a última pessoa da face da Terra que poderia dar certo, segundo ela.
A coisa começou de brincadeira. Nenhum dos dois tinha qualquer intenção. Inclusive jurara a si mesma que não passaria de um dia. Mas veio o dia seguinte... e o seguinte... e o seguinte. Mãos dadas, beijos carinhosos, sussurros ao pé do ouvido. Conselhos de cuidado, olhares de preocupação... apelidos carinhosos, supostas "juras". Até mesmo confissões subliminares e promessas subentendidas de relacionamento único.
Ao contar, com todos os detalhes, cada particularidade da vida a dois, os olhos de minha amiga marejavam-se de forma saudosa. E eu ouvia atentamente.
Mas, em um determinado momento, o medo da intimidade falou mais alto. Entre a cruz e a caldeirinha, de repente, o rapaz chamou-a a um canto e explicou sua situação. E que situação! Aquela que todas as mulheres temem e rezam para nunca lhes acontecer. Sentou-a em um banco e contou-lhe sobre seu passado. Em clima de confessionário, fez ela papel de vigário. Ao dizer tudo talvez ele tenha pensado que receberia em troca o silêncio ou um "tudo bem, compreendo".
Foi aí então que minha amiga encheu o peito e disse à ele, orgulhosa, que "o ser mais irracional do mundo é o ser humano: faz a mesma coisa todos os dias objetivando resultados diferentes".
Palavras bonitas... boas intenções. Ele avisou-lhe que, a qualquer momento, as coisas poderiam mudar de rumo. E que tinha a certeza de sua culpa afinal, inerente à sua vontade, ele criava uma barreira em volta de si próprio. Sempre.
Minha amiga não desistiu. Pensou que seria o diferencial e, após dois longos dias de choro, renovou-se e continuou seguindo em frente. Mas era tarde demais. Aquela conversa fora o início do fim. Tudo foi murchando... as palavras tornaram-se escassas, os sussurros idem. Mãos dadas tornaram-se raras... promessas foram desfeitas. Tudo durou apenas um mês.
Um mês... quatro semanas... 30 dias...! É o suficiente para se tornar inesquecível? É isso o que propõe boa parte do filme que assisti. Mas por que acabar com algo que pode dar certo? Por que viver a vida tão loucamente a ponto de não vivê-la o suficiente? Por que tanto medo, angústia, bloqueio... por que o medo de viver?
Ela, lamentavelmente, optou pela decisão, a curto prazo, mais dolorosa. "Abortarei essa missão, amiga", disse-me cheia de dor. "Sei que poderia ter feito a diferença... sei que poderia tê-lo feito feliz... mas não depende só de mim". É pela indecisão que se perdem as oportunidades, já dizia Publílio Siro.
Tudo está ficando mais difícil e principalmente as relações humanas. Não nos cumprimentamos mais, nem conhecemos quem são nossos vizinhos. Nos resumimos à relações virtuais não somente no sentido cibernético mas no sentido real do virtual. Fingimos ser algo para fingirmos a vivência de algo. No final das contas a única coisa real é o sentimento de vazio que nos sobra. O que somos? Aliás... o que estamos nos tornando?
Banalizaram-se os relacionamentos... tudo é "faz-de-conta", e isso muitas vezes machuca. Vide a minha amiga!
Como diz o Jabor... paremos de venerar peitos e bundas. E ainda acrescento: paremos de venerar a "pegação", o "rala-e-rola". Para quê? Somos humanos providos de sentimentos, seres completamente racionais capazes de discernir o certo do errado. Viver o agora? É interessante e atrativo... e por que não vivê-lo com qualidade, e não com quantidade? Torna-se mais atrativo ainda.
Quantas pessoas deixamos passar em nossas vidas pelo medo do desconhecido? O novo é bom, traz experiências, nos enriquece cultural e humanamente. Por que não se envolver com o novo? É assim que sabemos se valerá ou não a pena.
Não devemos viver por conta de um passado. Ele serve apenas para não repetirmos os mesmos erros. E também não devemos viver a mercê de um futuro, afinal, ele ainda nem chegou e deve ser construído no agora, no presente. Não nos igualemos jamais. Todos somos diferentes, em vários aspectos. Deveríamos abolir da língua portuguesa a palavra "generalização". Para que generalizar se há sempre um detalhe capaz de diferenciar?
No fim do filme, os protagonistas Nelson e Sara terminam o relacionamento de um mês devido ao futuro incerto da mocinha, já que esta possui uma doença incurável. Ambos sofrem com essa decisão pois não se permitem envolver pela intimidade do amor que os rodeia. E aí, será que valeu a pena?
"Quem pode dizer quando os caminhos se cruzam que o amor deve estar em seu coração? 'Only time' ". Só o tempo dirá. E para isso, precisa-se vivenciá-lo.

3 comentários:

Anônimo disse...

é.. lendo seu texto, achei meio confuso.
tipo, por um momento é bastante interessante viver o agora, aquela emoção do algo novo e intenso... por outro, é igualmente bom se manter ao lado daquela pessoa que te proporcionou momentos legais, intensons e afins... contudo, de certa forma, esses dois fatores se sobrepõe, não havendo espaço para ambos ao mesmo tempo.. a não ser que sofram de transtornos de esquizofrenia múltipla...

enfim... acho que relações íntimar humanas são, necessariamente, confusas... o novo e o intenso é bom, manter-se com alguém confiável é, igualmente, bom...

resta saber o que se quer da vida...

sei lá

Renata Brügger disse...

O novo sempre deve ser bem vindo quando estamos apenas conformados, acostumados...quando a única coisa real é aquele vazio que a gente sente, como vc disse Larinha.

Talvez o segredo seja não procurar a segurança no outro, mas na nossa capacidade de ..."dançar conforme a música" idependente da situação.
Há sempre gargalhadas e frio na barriga esperando a gente em algum lugar...=D

Gostei do seu texto Lara..! ;)

Cabula disse...

ei postei coisa nova la xeru!!!