Olha só o mundo em que
vivemos. A época em que vivemos. As ditaduras que vivemos. Certo.
Pode parecer o início
de mais um texto categórico sobre não se adaptar a determinados
padrões que, entra ano, sai ano, insistem em nos perseguir.
Sim... Eu sou gordinha.
Talvez não tanto visualmente, já que a minha estatura é acima da
média e minha composição corporal, pelo menos, ajuda na
distribuição das gordurinhas. Mas sim... De acordo com cálculos
médicos, já me encontro com o IMC elevado... ou seja...
Obesidade leve.
E tenho culpa disso. Em
vários sentidos. De várias formas... Consciente e
inconscientemente.
Estou exatamente 22 kg
acima do meu peso ideal, ou seja, do peso considerado saudável.
Muitas roupas já não cabem mais em mim e se amontoam no meu armário
como metas que almejo, um dia, alcançar. Tá. Até aí tudo bem.
Nóia normal de qualquer mulher.
Mas... Pensando bem...
O que é que realmente importa? Infelizmente seguir padrões, de
fato, trazem bem-estar. Não sejamos hipócritas ao ponto de falarmos
“estou bem assim, comendo desse jeito, vestindo 52 (ainda não é o
meu caso – risos), cansando ao subir escadas e assando o meio das
pernas quando ando”. Não. Ninguém consegue ser feliz assim. E se
pararmos para pensar, lá no fundo, no âmago da coisa, não se está
feliz assim não pelo padrão não alcançado. Não se está feliz pelas
limitações que isso traz.
Mas ao mesmo tempo, há
prazeres além de uma calça tamanho 40 (ou 38) e fôlego para
caminhar na praia. Comida, querendo ou não, é um prazer. É uma
configuração social na qual nos inserimos desde que nos conhecemos
por gente. Quem nunca abriu a lancheira na hora do recreio para
trocar de lanche com o coleguinha? Ou se deliciou com bolo e
refrigerante na casa da vovó? Comer também traz prazer... Ó, meu
Deus, e agora?
Passei por muitas
transformações nos últimos seis meses da minha vida. Físicas,
mentais, espirituais... De todos os tipos. Tive momentos que, na
hora, me pareceram solidão mas que depois entendi que eram momentos
meus, para me escutar, para me observar, para me entender. E, claro,
para me aceitar.
Sim, eu sou gordinha e
tenho dificuldade para emagrecer. Sejamos objetivos... O que eu
preciso fazer? Fechar a boca e fazer exercícios. Tá... Mas, até
que ponto? Até onde posso ir sem que isso me tire os pequenos
prazeres (não estou falando só da comida com esta colocação)? Sem
perder o bom humor e o otimismo?
Depois de perdas e
ganhos, em vários sentidos, cheguei à conclusão que dolorosamente
foi marcada com tatuagem: paz é quando você perdoa a si mesmo.
Mas... Alto lá! Não levemos esta frase tão ao pé da letra ao
ponto de ressignificá-la erroneamente. Não é assim que a banda
toca.
Não estou nem um pouco
disposta a me enfurnar dentro de uma academia e pagar (caro!) para
levantar pesos e andar em bicicletas que não saem do lugar. Isso,
para mim, não faz muito sentido. Talvez um dia já tenha feito,
porém hoje vejo que há tanta coisa bonita lá fora para ser vista e
vivida que, sinceramente, por mais bem que faça, desculpa...
Academia, beijo, não me liga!
Caminhar... Sim.
Caminhar eu gosto. Olhar as pessoas, as ruas, sentir os cheiros e as
elevações do terrenos sob meus pés. Pronto! Encontrei algo que, de
fato, eu gosto. Então é isso que eu vou fazer... E que já estou
fazendo, também com um propósito. Vou e volto do trabalho usando as
pernas que Deus me deu e que foram feitas para isso. Têm uma razão,
não é? Por isso as tenho usado.
Relaxar... Sim. Relaxar
eu também gosto. E quem não gosta? Quem disse que relaxar é se
esparramar no sofá e flexionar os dedos num controle remoto? Não...
Não. Yoga, que tal? Sim. Eu gosto. Aliás... Eu amo. A partir do
momento que você descobre que seu corpo e sua mente estão
diretamente ligados e que existe energia circulando, muita coisa muda
dentro de você.
Caminhar e relaxar
(entre 'outras cositas más') me fizeram enxergar que sou muito mais
que um simples ser humano querendo se encaixar no padrão. Eu sou
alguém que, de fato, quer ser feliz comigo mesma e ser feliz também
faz parte da boa saúde.
Boa saúde requer boas
energias. Então... O que me traz energia? Comidas saudáveis, sim,
lógico, mas sem neuras. Frutas, legumes e verduras vêm da terra.
Terra é energia, então, por que não consumi-las? São gostosas...
E alimentam.
Empanturrar-se também
não faz bem. Isso exige do seu corpo mais do que ele pode dar
naquele momento. Por isso o sono excessivo, a sensação de
empazinamento, a azia... E, muitas vezes, o peso na consciência.
Encher-se, realmente, não faz sentido. Tira-lhe os reais prazeres da
comida e dos exercícios. Estaguina-lhe. E ficar parado é,
consequentemente, ter energia parada. Vale realmente a pena?
Livrar-se de certos
venenos também fazem o seu corpo agradecer. Na verdade, livrar-se
neste caso seria uma palavra forte. Então... Evitar seria melhor. Ao
máximo. Refrigerantes são deliciosos, todos sabem, assim como tudo
o que composto de muito açúcar e gordura. Mas pensem... São
alimentos igualmente pesados, que vão exigir de você muita
energia, por mais que levantem a bandeira de alimentos energéticos.
Podem trazer até um certo gás momentaneamente, mas depois... Toda a
sua energia se esvai. Vale realmente a pena consumi-los sempre?
Não... Acho que não.
Acho que o segredo é
não se privar das coisas, quaisquer que sejam elas: comidas,
bebidas, exercícios, preguiças. O segredo é equilibrá-las. Tudo
foi feito para ser desfrutado. O erro do ser humano é confundir
desfrute com exagero. E eu confesso, sem vergonha na cara, que eu era
assim. Era comida demais. Preguiça demais. Energia de menos. Saúde
de menos.
Não sei quanto tempo
vou levar para perder esses 22 kg. E nem sei se realmente quero
estipular metas, assim como os padrões nos impõem. Eu só quero ser
feliz no fim das contas. Comer o que me faz bem. Suar o que não me
faz bem. Relaxar... E amar quem me faz bem. O resto (quem sabe descer do tamanho 46 para o tamanho 40) é só consequência. E sabe como eu
cheguei à conclusão disso tudo? Porque descobri que paz, de
verdade, é quando você perdoa a si mesmo.
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