segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Do meu jeito

Questionaram-me porque que faz tanto tempo que não escrevo. Minha resposta? "Ah, sei lá... às vezes devaneio, mas quando o faço estou tão longe do computador. E quando estou perto, dá uma preguiça...". Interessante como, na verdade, dá preguiça de tanta coisa nessa vida.
Essa expressão me foi ensinada por um amigo. Após contar uma situação complicada à ele, vem ele e solta: "Ah, Lara... dá uma preguiça disso aí". É verdade. Quanta preguiça tenho de determinados momentos que me acontecem, de dúvidas que me acometem, de desculpinhas esfarrapadas que ouço, de hipocrisias, lamúrias infinitas, idiotisses e coisas e tal. Quanta preguiça me dá de tempo parado, ideias arcaicas e poesias não terminadas.
Estou eu cá, em frente ao computador, às 4h05 da manhã, devaneando depois de tanto tempo. E tudo por causa dessa minha busca-incessante-pelo-equilíbrio. Vem cá, o que é equilíbrio? É ter um trabalho bom, um corpo escultural, um cabelo estilo propaganda de shampoo, um amor no peito e um amante no meio das pernas? Tá, ok... então estou ferrada! Porque nada... nadica... niente... nothing... eu tenho.
Mas sabe o que eu tenho? Tenho uma gargalhada contagiante. E algumas tiradas de humor bem legais. Sabe o que eu tenho também? Um terapeuta fantástico, que me faz "expurgar" meu sentimentos mais reprimidos através de pelos encravados, furúnculos e terçóis. Tenho amigos imensuráveis... e que me intitulam como "agregadora".
Ah, tenho cd´s de zouk . E uma plaquinha escrito "Chica Sexy" batizando meu carro, junto à dadinhos de pelúcia preto e branco. Tenho uma passagem comprada para passar reveillon no Rio de Janeiro com as minhas melhores amigas. Tenho um amor de infância inacabado e uma paixão retardada por um bunda mole. Tenho um ventilador que funciona quando quer e uma mãe inteligentíssima.
Tenho medo de escuro. Ah, se tenho! Tenho três tatuagens e um sinalzinho no seio direito. Tenho amigos em Rondônia, sim... assim como em Curitiba, Fortaleza, João Pessoa, Maceió, São Paulo, Minas Gerais, Brasília, Balneário Camboriú, Ponta Grossa, Goiânia... Tenho uma sobrinha postiça e um sobrinho de sangue. Tenho uns 300 livros, umas 2 mil fotos e uma coleção de rolhas de vinho.
Tenho um violão. Anda meio mudo, mas mesmo assim o tenho. Tenho pseudo-pacientes, uma atração por músicas do Astor Piazzola e 68 cd´s dentro do meu carro. Tenho saudade... tenho raiva... compaixão... pena... tenho sorte... e azar. Tenho lágrimas... sorrisos de canto da boca... vontade... vontade... vontade...
Tenho acessos de raiva. E nessas horas meu coração só falta sair de dentro do peito. Sou jornalista... quero ser psicóloga... quero ser cantora... Tenho unhas curtas, dedos gêmeos dos pés... tenho um rasgo cicatrizado na orelha... e um irmão meio bruto, mas gente boa.
Tenho um estranho medo de ver peixes vivos. Tenho um tesão enrustido por um colega de sala. Tenho uma imensa admiração por uma professora. Tenho vontade de usar batom vermelho. E tenho quase todos os livros de Harry Potter e Monteiro Lobato. Tenho dó... tento ter fé... tento nunca ficar só.
Tenho amiga desbocada... amiga recatada... amiga mais ou menos... amiga apagada. Tenho amigo homem... amigo homo... e amigo que não sabe o que é. Tenho leves covinhas nas bochechas. Tenho vontade de assistir o nascer e o pôr do sol todos os dias. Tenho preferência por carboidratos... e alergia à dipirona e AAS.
Tenho preguiça. Preguiça, talvez, do equilíbrio. Desregrada... emaranhada... descompensada... é, sim, talvez. Talvez do meu jeito eu tenha esse tal de equilíbrio. Talvez... mas do meu jeito.

4 comentários:

Izabella Brito disse...

Como sempre perfeita em TUDO que faz! Me encontrei muito nesse teu texto...saudades sempre!

Anônimo disse...

e vc me perguntando se eu tava escrevendo... e colocando no blog.
agora que eu li seu texto deu vontade de voltar a publicar.
universo dos blogs eh tao bom.
ahhh gostei do texto.
kkkkk augusto

Augusto Felizola Garcez disse...

soh por isso voltei a postar

disse...

Sofro desta mesma "preguiça". No meu caso junto ao perfeccionismo de não querer escrever de qualquer jeito.
Mas bacana sua autodescrição, deu uma ideia sobre ti pra quem pouco te conhece feito eu :D

Quando eu penso sobre porque escrevo me vem Leminski na mente.
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.


Ah, ninguém do REcife?